quinta-feira, 11 de setembro de 2008
sábado, 21 de junho de 2008
papel de baloiço
Aquela ideia antiga, guardada de gaveta, de que o amor nos serve à vida como se de panaceia se tratasse, deixa que a vida se transforme em aventura minimal e, às vezes, deixa até que nos percamos dela. É uma ideia de quase infância que veio com histórias de adormecer fadas. Não foi um engano. Mas há amores que se vivem melhor fora de castelos encantados. Às vezes, basta uma janela para o infinito. E dessa gaveta antiga, apenas um baloiço de papel.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
instante
terça-feira, 27 de maio de 2008
rodopio
Entrou na vida e rodopiou três vezes. Para que os dois olhos virados para o passado se pregassem com força no presente, no lugar das lágrimas. Entrou na vida de rompante. Esqueceu-se, de propósito, de limpar os pés no tapete da entrada e de se benzer sob a soleira da porta. Há dias em que mais vale nem nos lembrarmos do tempo. Para nos livrarmos dessa força centrífuga que teima em colar-nos a sola dos sapatos ao chão quebrado. São mil pedaços de ilusão que se nos colam aos pés.
- Vai sofrer - diziam.
- Vai chorar lençóis de água onde nem o sol adormece.
Mas ela precisava que lhe arrancassem os girassóis das mãos.
"É impossível saber dizer o que dói mais quando se perde a meada ao amor" - pensava. "Há a memória de uma casa pequenina e de uma janela, e dentro da janela há outras mil memórias que não sei guardar.
- Fecha a janela" - gritava sozinha. Sem saber que há janelas que ficam sempre abertas.
É impossível acreditar sempre que entramos na vida com um percurso justo preconcebido. Ela já tinha acreditado muito tempo.
Ao terceiro rodopio ficou muito tempo parada sozinha. A chorar os lençóis de água que nem o sol deixa secar. Os olhos presos no presente, no lugar das lágrimas. Lembrou-se dos dias em que o espaço pequenino de uma janela deixava entrar o coração grande demais para caber. Não quis sorrir. O coração grande demais não lhe cabia no sorriso.
- Está a esconder a luz que lhe vem de dentro. Cobre-se com a noite. Há um sol a fingir de lua que não deixa o sonho passar. Não faz de propósito para sofrer. É a história dela. Tenta dormir e não consegue.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Estação
Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te
vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço
e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho
Muita vez vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me eu e não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça
Mário Cesariny
vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço
e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho
Muita vez vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me eu e não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça
Mário Cesariny
segunda-feira, 19 de maio de 2008
caixa de música
quarta-feira, 7 de maio de 2008
ternura em malmequer
Já foi embora e ainda cheira. Ainda bate de frente contra as multidões.
Já foi embora e ainda leva nas mãos um sorriso escondido. Bordado a ternura, disseram.
Já foi embora e ainda está por todo o lado. É persistente.
Dança de roda todas as manhãs.
terça-feira, 29 de abril de 2008
pezinhos de lã
Às vezes corre-se depressa para chegar a lugar nenhum. Para ultrapassar medos e enredos aos quais queremos ser o pior cego e nunca ver. Uma verdade assumida como um grito entre mãos a ser lançado a todo o momento. Corremos para que o temor do mundo seja perpendicular a um coração ao alto...
Mas o meu amor ainda existe.
E tem pezinhos de lã.
Mas o meu amor ainda existe.
E tem pezinhos de lã.
segunda-feira, 28 de abril de 2008
entre tanto branco
Há dias que levam mais tempo que o tempo de um dia inteiro.
Vinte e quatro horas em mãos cheias que demoram a passar.
Há dias que precisam de ser escritos para que possam ser esquecidos.
Vinte e quatro horas de mãos vazias.
E entretanto, branco.
Vinte e quatro horas em mãos cheias que demoram a passar.
Há dias que precisam de ser escritos para que possam ser esquecidos.
Vinte e quatro horas de mãos vazias.
E entretanto, branco.
"Tem medos,tem medos,vivem escondidos nos nossos segredos".
Sérgio Godinho
quinta-feira, 24 de abril de 2008
abril de madrugada
Esta madrugada Abril vai voltar a abrir as portas a um Maio de papoilas. E o vermelho que nasceu comigo há-de lá estar. Ainda crente nas flautas e nas danças com força de mover mundo.
Primeira Liberdade
Eu falo da primeira liberdade
Do primeiro dia que era mar e luz
Dança, brisa, ramagens e segredos
E um primeiro amor morto tão cedo
Que em tudo que era vivo se encarnava.
Sophia de Mello Breyner Andresen
quarta-feira, 23 de abril de 2008
neurose apoteose
Não preguei olho. Há três dias que tenho seis olhos por pregar.
O sol que vem com o amanhã não cabe nas frinchas da chuva e ninguém abre a porta.
Nasci com o sol nos olhos por engano.
Irrito-me com o amor no fundo do vazio.
Declaro com prudência a monstrualização da minha calma.
"April showers bring May flowers"
terça-feira, 22 de abril de 2008
zorzoleta
É o primeiro dia do resto da minha vida e está a chover outra vez.
Há oito meses que ando a ser zombada por alguém invisível lá de cima. Ou lá de baixo.
Há oito meses que ando a ser zombada por alguém invisível lá de cima. Ou lá de baixo.
- É como uma montanha russa, mãe!
- O quê?
- O amor!
Já não consigo esconder com a saia o coração grande demais que teima em cair por mim abaixo.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
estribilho
É possível que tenha começado pelo telhado.
É possível que o sol leve mais tempo a brilhar nos dias que aí vêm.
É possível que o amor tenha ficado do avesso.
Não se valsou.
Não se salvou.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
venha o sol que vier, é um outro dia!
quarta-feira, 16 de abril de 2008
grito por não dito
"Estribilhos". Ao ver a palavra escrita na versão compacta da Presença, apeteceu-me guardá-la de bonita.
E depois há outras coisas, diferentes de palavras, que não se guardam em caixinhas de papel.
Talvez no coração.
E depois há outras coisas, diferentes de palavras, que não se guardam em caixinhas de papel.
Talvez no coração.
Subscrever:
Mensagens (Atom)